A trajetória musical de Maïa Barouh começou ainda na infância, influenciada por seu falecido pai, o renomado cantor, escritor e compositor Pierre Barouh. Crescendo em um ambiente criativo e musical, ela começou a tocar instrumentos aos seis anos de idade e logo desenvolveu uma profunda paixão pela música, especialmente pela flauta. Ao longo da carreira, passou a explorar diferentes linguagens musicais e, com o tempo, enveredou pelo canto e pela composição autoral. 

Unindo a música pop e eletrônica moderna com a música folclórica tradicional japonesa, Maïa Barouh cria paisagens sonoras únicas para sua poesia original interpretada em francês e japonês, nunca celebração de sua herança cultural franco-japonesa.

Ao longo de sua carreira, Barouh tem usado sua arte com coragem para lançar luz sobre questões globais urgentes, como o racismo e o feminismo. Sua canção mais recente, "La Forêt," (traduzida como "A Floresta"), em colaboração com a organização de conservação florestal Everland, aborda o problema do desmatamento. Barouh nos contou que a canção entrelaça memórias alegres da infância, como as visitas às florestas da França com sua família, com a urgência de refletir sobre a destruição ambiental e o impacto que isso causa na relação da humanidade com o mundo natural.

Com "La Forêt", Barouh presta homenagem às comunidades indígenas e tradicionais, destacando suas práticas sustentáveis de manejo da terra, que há gerações protegem as florestas. A artista também colaborou com músicos da comunidade Ainu, de Hokkaido, no Japão, e se inspirou na resiliência desse povo diante do colonialismo, da opressão e do deslocamento forçado.

A importância das florestas para a saúde do planeta é imensa: elas funcionam como sumidouros de carbono, absorvendo emissões nocivas que aceleram as mudanças climáticas, além de fornecerem recursos vitais e abrigarem espécies ameaçadas de extinção. No entanto, cerca de 10 milhões de hectares de florestas são destruídos todos os anos, uma área equivalente ao tamanho da Islândia. E as consequências não afetam apenas a biodiversidade: mais de 1,5 bilhão de pessoas dependem diretamente das florestas para sobreviver.

Países do Sul Global, como a República Democrática do Congo, Angola e Tanzânia, na África, e Brasil, Guatemala e Paraguai, na América do Sul, enfrentam perdas florestais significativas devido ao desmatamento deliberado e às mudanças climáticas causadas pelo homem. Se não houver uma ação urgente para proteger as florestas em todo o mundo, estima-se que, até 2030, apenas 10% das florestas tropicais do planeta irão sobreviver.

Em conversa com a Global Citizen, Barouh falou sobre o projeto, "La Forêt," em colaboração com a Everland. Ela enfoca as urgentes consequências do desmatamento e o papel fundamental das comunidades indígenas na proteção das florestas do mundo.

Como surgiu a ideia para La Forêt?

Maïa Barouh: A inspiração para a canção "La Forêt" veio de minhas memórias de infância, de meus momentos no interior da França, cercada pela natureza. Apesar de ter crescido em grandes cidades como Paris e Tóquio, eu tive a sorte de poder escapar para o campo de vez em quando. Tínhamos uma casa na zona rural da França, e costumávamos passar muito tempo lá, em meio à floresta, ao lado do rio, com muitos animais ao redor. Tentei resgatar essas memórias, e foi assim que eu comecei a escrever a letra e compor a música.

Não queria parecer alguém que sabe tudo porque cresci no campo. Não, eu quero ser honesta sobre isso, como se eu não tivesse nada para ensinar ou mensagens para impor. O que busquei foi oferecer uma perspectiva diferente através da minha arte, deixando espaço para que cada pessoa interprete a mensagem do seu próprio jeito. Por isso não posso simplesmente dizer: "Não corte suas árvores" ou "Não faça isso." Acho que nossa função como artistas não é impor sentimentos, mas sim propor algo. A partir daí, todos podem sentir o que quiserem. E eu acredito que isso é arte, sabe? Isso, para mim, é arte.

O que te motivou a criar essa música?

Maïa Barouh: Eu me propus a mostrar o quanto somos profundamente interligados às florestas. A natureza pode sobreviver sem a gente, mas quando as árvores sentem sede, nós também sentimos. Quando as árvores queimam, nós também queimamos. E se as florestas caírem, nós caímos juntos. 

Através desta verdade, espero que La Forêt desperte um momento de reflexão sobre a nossa relação com a natureza, sobre nossas escolhas e responsabilidades como consumidores e eleitores. Talvez até nos ajude a nos reconectar com uma parte de nós mesmos que muitas vezes perdemos na correria da vida.

Na sua colaboração com a Everland, qual mensagem você pretende transmitir para o mundo através deste projeto?

Maïa Barouh: Alguém da Everland descobriu o meu trabalho através da internet e do YouTube, incluindo meus videoclipes onde mesclo francês e japonês. Eles acharam a minha abordagem interessante e acreditaram que isso poderia ajudar a conscientizar as pessoas sobre a urgência de proteger as florestas. O objetivo era criar uma canção em um idioma que não fosse o inglês.

Quando a Everland me convidou para criar uma canção em japonês e francês sobre o desmatamento, eu hesitei porque não queria parecer muito piegas ou pretensiosa. Eu queria encontrar o ângulo certo para falar sobre a floresta e transmitir a mensagem de forma autêntica.

Cada um tem suas próprias lutas e maneiras de ver o mundo. Se a minha música puder inspirar as pessoas a apreciar a importância da natureza, mesmo que por apenas alguns minutos, e incentivá-las a passar algum tempo em meio à floresta, isso já é muito. Talvez algumas pessoas até sintam motivadas a agir. E, no fim, também é importante reconhecer o trabalho que a Everland está realizando no mundo todo.

De que forma você espera que La Forêt impacte mudanças ambientais e sociais?

Maïa Barouh: Não posso prever o impacto de La Forêt, mas espero que influencie mais artistas a falar sobre o desmatamento e a necessidade de proteger o planeta. Se mais artistas famosos falarem sobre esses tópicos, seja sobre as árvores, a água ou os animais, isso pode realmente fazer a diferença. Cada um tem seu ângulo pessoal para falar sobre isso. Eu usei a minha bagagem franco-japonesa para destacar e celebrar os povos indígenas e os rituais tradicionais. Eu não sei se será a arte em si que mudará as coisas, mas o simples fato de mais pessoas falarem sobre isso pode fazer a diferença.

Qual é a importância de incluir artistas de comunidades indígenas e tradicionais do Japão no projeto, e como essas contribuições enriqueceram a música?

Maïa Barouh: O povo Ainu é o povo indígenas do Japão, e sua história sempre esteve ligada às florestas. No entanto, como muitas outras comunidades indígenas ao redor do mundo, eles enfrentaram opressão. Portanto, eu precisava apresentar essa cultura como uma forma de mensagem.

Eu acredito que seja importante para as pessoas ouvirem o canto do povo Ainu e conhecerem suas práticas tradicionais, pois isso pode ajudar a mudar perspectivas. Ao ter contato com sua música e suas tradições, as pessoas podem entender que essas culturas existem há muito tempo e ainda resistem, apesar de toda a opressão.

A gravação do clipe foi uma verdadeira aventura: viajei ao Japão e tive a chance de colaborar com músicos da comunidade Ainu para a música. 

Já no videoclipe, quem aparece são os dançarinos tradicionais japoneses que executam o Shishi Odori, um ritual de dança tradicional originário da região de Tono, no Japão.

Mas não se trata apenas de festa, dança e tambores. O ritual de dança tradicional tem um significado profundo, pois é realizado para mostrar respeito pela floresta e seus habitantes. Durante a dança, os participantes usam máscaras e vestes que representam animais como leões ou cervos, simbolizando o equilíbrio necessário entre seus seres humanos e a natureza. É um convite a repensar como vivemos com a natureza, e não contra ela.

Que emoções você gostaria que o público sentisse ao ouvir essa música?

Maïa Barouh: No processo de composição para "La Forêt", comecei pelas letras e pela melodia, trocando ideias com amigos músicos e parceiros. Quis integrar os dois idiomas, o japonês e o francês, de formas complementares: o japonês com uma carga mais poética e infantil, e o francês com uma abordagem mais direta e política. Cantei nas duas línguas, usando o francês para passar a mensagem com mais clareza, e o japonês para explorar a sensibilidade e a poesia.

Quanto às emoções, acredito que a boa arte não deve impor como as pessoas devem se sentir. Não gosto quando alguém rotula uma música como “triste” ou “alegre”, porque cada um sente de um jeito. Alguns podem sentir alegria e dançar com uma música sem entender a letra, enquanto outros podem ouvir a letra da música e dizer, "Ah, isso é triste,” e perceber que existe uma mensagem maior. Eu nem sei como me sinto sobre a música. Eu experimento emoções diversas; sinto-me feliz em alguns momentos e também triste em outros. As melhores músicas evocam sentimentos mistos porque todos vivenciamos uma mistura de emoções. Quando uma música capta tanto a tristeza quanto a felicidade, ela soa mais verdadeira e próxima da vida real.

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Este artigo foi produzido em colaboração com a Everland, parceira da Global Citizen. A Everland atua na conservação de florestas e da vida selvagem, ajudando comunidades ao redor do mundo a prosperarem e contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas em benefício de todos.

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